Natal

Antes de falar da tira, quero mostrar para vocês uma matéria muito bacana sobre quadrinhos na internet que saiu na revista Galileu e menciona este blog. A jornalista Denise Dalla Colletta foi deveras generosa, e colocou este site ao lado de outros muito bons: O Pintinho, Ryotiras, Sushi de Kriptonita e Pablo Carranza. Pena que o espaço era curto, porque daria para ela citar também o Gus Morais, Renan Lima, Tiras não, Bichos do Lixo, Will Tirando, Overdose Homeopática, Menina não pode, Peixe Aquático, Quadrinhos rasos, Ofensivos por Natureza, Minha Talentosa mão direita e vários outros que esqueci. Para ler a matéria, clique aqui.

Para mim, esta matéria tem um grande mérito de sair do óbvio embate entre a mídia tradicional e a internet, e tratar da grande (e única?) vantagem dos trabalhos independentes: a própria independência. Independência de tema, independência de tamanho, independência de traço, independência de prazo, independência de constância.

Veja a última tira do Renan Lima, por exemplo: pura putaria! Acho que jamais seria publicada no Estadão ou na Folha. Ou então a minha série dos idiotas. Se fosse em algum jornal, provavelmente eu receberia este telefonema do editor:

- Alô, eu poderia falar com o Andrício?

- É ele. Quem gostaria?

- Andrício, aqui é o (nome do editor), tudo bem?

- Tudo, rapaz! E contigo? A que devo tamanha honra?

- Tudo bem, também. É o seguinte. Eu gostei muito, mas muito mesmo da sua nova série de tira, a dos idiotas.

- Puxa, que bom! Fico muito contente por isso.

- Mas você poderia encerrá-la o quanto antes? Não se trata de uma questão qualitativa, muito pelo contrário! Mas alguns leitores estão se sentindo desgostosos com a... Como pode dizer? Com a pungência das tiras!

- Com a pungência?

- É.

- E se eu tirar a pungência, posso continuar?

- Não é isso. Estou com saudades das tirinhas que você faz sobre sua mãe. Você pode fazer uma para amanhã?

- Mas é claro!

- Ótimo, Andrício. Ótimo! No resto, está tudo bem com você e seus gatos?

- Tudo sim, na semana passada chegou uma gata nova aqui, a Rubi. Você tem que ver como ela...

- Desculpa, Andrício, vou ter que desligar agora, que acabou de chegar o presidente da empresa. Grande abraço e fique com Deus!

- Outro!

E assim eu faria a tira sobre a minha mãe. De repente poderia sair uma boa tira. Isto não é nem um problema. Se a pessoa quiser fazer um trabalho totalmente autoral, basta que faça um blog, ou um livro. Mas para aparecer no jornal dos outros, e ser pago por isso, é preciso se adaptar um pouco.

Um pena mesmo é que existam poucas revistas de quadrinhos, onde, aí sim, poderíamos ter trabalhos mais experimentais e menos diluídos - para usar a palavra da entrevista.

Eu ia falar alguma coisa dessa tira, mas esqueci inteiramente.

6 comentários:

Unknown disse...

Os quadrinistas (amadores como eu e profissionais) deveriam unir-se e fundar algum tipo de revista com o apanhado de tiras de todos. Seria legal pra caramba, o problema seria somente o lance autoral.

eassis disse...

Boas dicas. Muito obrigado.

Fã disse...

Bicho, mesmo que um dia seja necessário dar a b* para sobreviver, coisa que todos nós fazemos diariamente, basta preservar tua identidade - e se possível este espaço.

Marco disse...

Valeu pela citação, Andrício. Grande abraço.

Unknown disse...

Sou tão lerdo que nem reparei no meu nomezinho ali. Valeu irmão!

Filipe Chamy disse...

Acho que o meio termo é o melhor (ou o que se deveria pretender). Laerte, por exemplo, que está no mainstream com um pensamento totalmente offstream. E ele não é o único. Acho que o grande barato é saber usar as armas que você possui, dentro do ambiente em que você está. O desafio para mim não é manter a integridade autoral num meio "visado" como jornais ou revistas ou televisão, mas sim CHEGAR LÁ. Estando lá, você pode se virar e falar tudo que quiser, tomando o cuidado para não ser antidiplomático; não é "prostituir seu pensamento", mas falar as coisas incômodas da maneira certa, sem ficar pulando chamando a atenção de maneira besta ou sem sutileza.